E SE TIVÉSSEMOS A DEMOCRACIA NA PALMA DE NOSSAS MÃOS?



Um dos benefícios do isolamento forçado, a que temos sido submetidos desde a chegada nada discreta da Covid-19 à sociedade global, é a possibilidade de dedicar um pouco mais de tempo à leitura. Com a implementação de trabalho remoto, os minutos (e nunca foram poucos) dedicados ao trânsito de uma cidade grande puderam ser convertidos em percorrer com os olhos infindáveis conexões de letras, palavras, frases, parágrafos, capítulos, tomos, etc. Mas este texto não é para propagandear (mesmo que seja ótimo se este for um “efeito colateral”) e muito menos para ostentar (e nada bom se for esta a impressão) o hábito da leitura. Enfim, ocorre que hoje esta prática não se restringe a impressos - nem é o adequado para conter o avanço do vírus - e, felizmente, temos em mãos o acesso a um acervo incrível em ambiente virtual. A Internet infiltrou-se em todos os aspectos de nossas vidas, tanto para o dever quanto para o lazer, e certamente tornou mais fácil o dia-a-dia em confinamento. Nossas vidas passaram a depender ainda mais de nossos smartphones [1].

E nestas “andanças” literárias através de reportagens, artigos, teses, cheguei a um texto [2] que levou a outro [3], e  a outros [4-7] e eis que descubro algo até certo ponto surpreendente: a União Soviética engavetou, na década de 1960, um projeto de algo muito próximo do que conhecemos hoje como Internet. Mas com um propósito diferente desde a origem: democratizar a informação, o planejamento e a tomada de decisões sobre os rumos do Estado. Em outras palavras: o projeto OGAS (sigla em Russo do que em tradução livre seria Sistema Automatizado Nacional de Computação e Processamento de Informação) [8] transferiria do Politburo para o Povo o poder efetivo de decisão, de maneira direta e descentralizada. Isso foi praticamente simultâneo à criação da ARPANET [9], em meio militar, que daria origem ao ambiente que hoje utilizamos. Pouco tempo depois, Sebastião Allende estava em vias de criar algo semelhante no Chile, o Projeto Synco ou Cybersyn [10], mas que foi completamente destruído pelas tropas de Pinochet no momento do golpe.

Entretanto, meu objetivo aqui não é discorrer sobre o que teria acontecido caso a URSS tivesse avançado em seu projeto ou se Allende não tivesse sido deposto e executado. Ao trazer esses fatos à luz, pretendo considerar as possibilidades de instituir práticas democráticas de fato (diretas, não representativas) a partir da realidade tecnológica em que vivemos hoje. Mas porque então partir deste fato pouco conhecido de um sistema político “derrotado”? Por que, diferentemente da versão “vitoriosa” que deu origem à rede mundial como conhecemos - a ARPANET era uma rede de troca de informações militares estratégicas - o projeto OGAS buscava descentralizar a tomada de decisões através do feedback obtido por terminais remotos distribuídos entre toda a população. Em outras palavras: enquanto a ARPANET interligava estações remotas em quartéis e órgãos oficiais, a OGAS pretendia estar presente em todas as residências Soviéticas.

Transportemos, então, para nossa realidade atual: a população total do Brasil é de aproximadamente 212 milhões de pessoas [11], das quais cerca de 148 milhões são eleitores aptos a votar [12]. Por outro lado, dados da ANATEL, indicam que temos MAIS celulares que pessoas[13]: o índice de junho de 2020 indica a densidade de 106,22 aparelhos para cada 100 habitantes. Não é, em números absolutos, um exagero dizer que o acesso digital é distribuído democraticamente no país. Carecemos de estudos qualitativos, mas parece óbvio acreditar que, dentro do quadro de gritantes desigualdades sociais, o brasileiro menos favorecido está muito mais próximo da conexão com a internet do que do acesso a serviços essenciais como saúde, segurança e educação de qualidade. Se tomarmos ainda como exemplo o Bolsa Família e o Auxílio Emergencial disponibilizados pela União através de aplicativos de celular, isso fica muito mais evidente.

Temos, atualmente, uma estrutura pronta e disponível para se implementar um sistema de democracia direta na tomada de decisões em questões de interesse público - literalmente na palma da mão de todo e qualquer cidadão. O que tem ocorrido na prática é justamente o contrário: como já foi diagnosticado por especialistas [14 e 15], o único feedback que hoje fornecemos através de nossos smartphones é involuntário (ou inconsciente) e com fins comerciais. Redes sociais, compartilhamento de conteúdo, notícias em tempo real, educação à distância, etc. Tudo isso democratiza o acesso e a difusão da informação, mas pouco influencia na tomada de decisões.

O legislativo disponibiliza em seus portais espaços para participação popular [16 e 17] onde é possível opinar, votar em enquetes e até sugerir leis. Mesmo acessível, é uma ferramenta limitada e sem poder decisório. Utilizada mais em casos polêmicos, de maior repercussão e visibilidade, ou em leis específicas de interesse de determinados setores - que acabam mobilizando apoiadores em suas próprias redes sociais para participarem. A influência destas manifestações pode ser questionada, principalmente por não demonstrar força para enfrentar lobbys empresariais ou sequer indicar para os parlamentares se tal posicionamento reflete fielmente a opinião de suas bases eleitorais.

Um exemplo de democracia semi-direta prático e de conhecimento público é o Orçamento Participativo, que já foi implementado em diferentes municípios, sendo Porto Alegre o caso mais notório [18]. Neste sistema, a aplicação de recursos disponíveis para determinada comunidade é decidida através de reuniões e assembléias com os membros da própria comunidade através de Conselhos. Entretanto, tais iniciativas foram perdendo força e, mesmo em Porto Alegre, as últimas gestões municipais levaram o Orçamento Participativo a um ocaso até certo ponto intencional.


A esta altura, muitos já devem ter lembrado que nosso sistema possui, além da possibilidade de propostas de leis através da Iniciativa Popular, dois instrumentos de democracia direta: o Plebiscito e o Referendo [19]. A diferença entre ambos é pequena, mas é importante ressaltar: o Plebiscito ocorre ANTES da lei ser constituída no Parlamento, sendo uma escolha; enquanto o Referendo ocorre DEPOIS da lei ser aprovada no Parlamento e serve como sanção ou veto. Mas são instrumentos que podem ser convocados somente pelo próprio Parlamento, além de dependerem de uma estrutura idêntica à de uma eleição, se tornando assim bastante dispendiosos. Após a Constituição de 1988 o Brasil teve, a nível nacional, apenas um Plebiscito - em 1993, para escolher a forma de governo - e um Referendo - em 2005, para o Estatuto do Desarmamento.

Então, cruzando todas estas informações, não seria possível que tivéssemos um aplicativo onde o povo fosse capaz de referendar as decisões parlamentares ou até decidir diretamente? Sem grandes manobras legais e com um investimento público pequeno perto do retorno que isso poderia dar no que diz respeito à representatividade? Como no caso da Suíça, onde há um índice superior a 40% de participação em votações que ocorrem cerca de 4 vezes ao ano, sobre 15 assuntos em média.[20]. Um exemplo recente diz respeito à polêmica Lei contra a Homofobia, que obteve a aprovação de 62% da população [21]. Mas na Suíça tudo é feito de maneira “tradicional”. Os votos são depositados em urnas, ou enviados pelo correio - em um sistema próprio para isso e que funciona desde 1890. E justamente com o exemplo da Suíça esbarramos no principal empecilho para eleições e plebiscitos totalmente não presenciais: Segurança. A Suíça praticamente desistiu, ao menos por enquanto, de adotar um sistema de e-voting [22].

O anonimato do voto exige que ele não seja rastreável. E esta impossibilidade de se fazer o “caminho reverso” em caso de suspeita de fraude é que torna a irregularidade mais possível. Não cabe aqui colocar em suspeita o sistema de urnas eletrônicas, onde boa parte do processo ainda é feito de modo presencial e com uma larga margem de segurança comprovada[23]. E também não podemos afirmar que a URSS estava certa em não avançar na implementação do projeto OGAS. Temos casos de sucesso, como na Estônia [24] onde, além do voto, praticamente todos os serviços públicos estão disponíveis on-line, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Vale também ressaltar que as dimensões continentais do Brasil, aliado ao seu sistema fortemente centralizado de controle de recursos a nível federal, dando pouca autonomia a Estados e Municípios, torna a questão ainda mais delicada. Mas o debate, ao menos na opinião de quem escreve este texto, deve prosseguir - e em uma direção progressista.

Para concluir e não ficar naquela velha história de que eu só critico sem apresentar nada de propositivo, gostaria então de trazer uma ideia que, pelo menos, faça os leitores pensarem a respeito: ainda que a curto/médio prazo seja inviável termos uma Democracia Direta através de meios eletrônicos, poderíamos retomar os passos em direção a uma Democracia Participativa [25]. Sem migrar todo o sistema eleitoral para o e-voting, poderíamos ter um onde os cidadãos que desejassem, pudessem participar do processo de tomada de decisões. E o fizessem através de conselhos remotos, de maneira não anônima, voluntária e não eletiva, para fornecer este feedback referendando ou não as decisões parlamentares. Obviamente seria necessário estabelecer critérios para a participação nesses conselhos como, por exemplo, vedar a participação de cidadãos com pendências judiciais ou fiscais, filiação político-partidária, ocupantes de cargo ou função pública, sócios-proprietários ou empregados em empresas com contratos públicos, etc.

O próprio sistema de consultas que temos hoje acabaria por ser mais procurado, somando-se a possibilidade de participar também após a decisão parlamentar e de maneira menos passiva. O cidadão que estivesse participando do processo teria ainda um papel representativo muito mais próximo da comunidade a que está inserido. Buscaria de uma maneira mais concreta avaliar o impacto daquela decisão em seu entorno, levando o debate ao âmbito familiar, amigos, colegas de trabalho. Talvez até aumentando o interesse de outras pessoas em participar do processo. Uma democracia eletrônica [26], porém muito mais efetiva e próxima da realidade da população. Ativa e participativa. Na palma da mão.

1.https://hashtag.blogfolha.uol.com.br/2020/06/05/uso-de-smartphones-cresceu-na-pandemia-e-mudou-forma-como-mulheres-idosos-e-mais-pobres-se-conectam/
2.https://passapalavra.info/2020/06/132629/
3.https://www.its.caltech.edu/~matilde/ScaleAnarchy.pdf
4.https://strelkamag.com/en/article/what-happened-to-the-soviet-internet
5.https://aeon.co/essays/how-the-soviets-invented-the-internet-and-why-it-didnt-work (http://elcoyote.org/o-internyet-sovietico/)
6.https://web.archive.org/web/20160403231924/http://web.mit.edu/comm-forum/mit6/papers/BenPeters.pdf
7.http://web.mit.edu/slava/homepage/articles/Gerovitch-InterNyet.pdf

8.https://en.wikipedia.org/wiki/OGAS
9.https://www.britannica.com/topic/ARPANET
10.http://www.cybersyn.cl/
12.https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/
12.http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleitorais
13.https://www.teleco.com.br/ncel.asp
14.https://www.bbc.com/portuguese/geral-39535650
15.https://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/especialistas-alertam-para-a-coleta-de-dados-por-aplicativos-de-celular-17062020
16.https://www12.senado.leg.br/ecidadania
17.https://edemocracia.camara.leg.br/
18.http://www2.portoalegre.rs.gov.br/op/default.php?p_secao=1
19.https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_26.06.2019/art_14_.asp
20.https://www.eda.admin.ch/aboutswitzerland/pt/home/politik/uebersicht/direkte-demokratie.html
21.https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2020/02/09/suicos-aprovam-por-referendo-lei-contra-a-homofobia.htm

22.https://www.swissinfo.ch/por/politica/e-voting_os-argumentos-que-impediram-votar-pela-internet-na-su%C3%AD%C3%A7a/45130442
23.http://www.tse.jus.br/o-tse/escola-judiciaria-eleitoral/publicacoes/revistas-da-eje/artigos/revista-eletronica-eje-n.-6-ano-4/por-que-a-urna-eletronica-e-segura
24.https://e-estonia.com/solutions/e-governance/i-voting/
25.http://www.revistas.usp.br/eav/article/view/146438

26.https://www.britannica.com/topic/e-democracy


Declaração de voto

Em primeiro lugar, não estou fazendo campanha pelo voto nulo, apenas expressando os motivos pelos quais - sistematicamente - tenho anulado meus votos já há alguns anos.
Em segundo lugar, eu sei que uma maioria de votos nulos não faz com que ocorra uma outra eleição - o próprio sistema já se deu conta desta brecha da lei e deu um jeito de “consertar”.
Em terceiro lugar, me abster de escolher um entre os candidatos é bem diferente de me abster da política em si. Também é diferente de colocar todos os candidatos como “farinha do mesmo saco”. Sei que existem diferentes tipos de políticos - inclusive aqueles que não se candidatam. Anular é apenas uma das opções.

Todos vocês sabem que eu vivo, penso, leio, discuto, argumento e compartilho política no meu cotidiano. Sou uma pessoa extremamente política e muito crítica em relação à política em todos os níveis. Portanto, para mim, participar da política está muito longe de, periodicamente, escolher candidatos em uma nominata. Nominata esta que já passou por tantos “filtros” antes que me dá a certeza de que não estou escolhendo o melhor - e sequer o “menos pior” - pois vários outros (partidos, financiadores, mídia, etc.) já fizeram uma pré-seleção deixando para o eleitor apenas aqueles que atendem seus interesses. Sim! Vocês que votam estão escolhendo entre os mais “preparados” para o mercado, os mais “adequados” ao sistema, os mais “prontos” para deixarem tudo exatamente do jeito que está.

Não venham tentar comentar que as urnas eletrônicas são inseguras e, se tivéssemos voto em cédula ou impresso, o resultado seria outro. Fraude existe, sim. Eletronicamente ou à moda antiga. Mas a manipulação do resultado ocorre muito antes do sufrágio. A verdadeira manipulação está na TV, no rádio, no jornal, na rede social, etc. E está por aí o tempo todo, não só em período pré-campanha. Mesmo que um candidato pareça, eventualmente, surgido do nada, é bom vocês saberem que ele só está ali por interessar ao partido, à mídia e - principalmente - aos patrocinadores de sua campanha, que vão cobrar a conta depois. E isso serve tanto para eleições majoritárias (Prefeitos, Governadores, Presidentes e Senadores) quanto para as proporcionais (Vereadores e Deputados).

Alguém vai me dizer que “tem muita gente boa na política” e eu não posso generalizar. E eu vou dizer que eu sei disso e não estou generalizando AS PESSOAS. O que é igual para todos é o sistema. E é tão bem estruturado que mesmo se, porventura, uma ou outra dessas boas pessoas chegar ao cargo para o qual se candidatou ela só permanecerá por lá se não estiver sendo uma ameaça ao sistema.

Este é o momento em que alguém pode querer me dizer: mas então tem que mudar TODOS. Renovar COMPLETAMENTE. E eu peço que me perdoem se a comparação ofender alguém, mas é mais ou menos o mesmo que acreditar que para curar uma pessoa do HIV basta retirar todo o sangue dela (cerca de 8% do peso total) e colocar a mesma quantidade de sangue de outra(s) pessoa(s) saudáveis no lugar. E então eu pergunto: Como será que ninguém nunca pensou nisso antes?! É tão simples!

Aí, finalmente, alguém vai me dizer que “Então precisamos mudar o sistema!”. E eu vou dizer que “Sim! Precisamos mudar o sistema! Mas como tu quer mudar o sistema sem mudar o sistema?”
Porque, afinal de contas, não é agindo de acordo com o sistema (votando em um dos candidatos) que se vai mudar o sistema.
O sistema não é alterado por pessoas de dentro do sistema e que foram escolhidas de acordo com sistema.
Quem, beneficiado pelo sistema, vai agir para que ele mude?
Quem vai abrir mão de seus privilégios?

Nenhum sistema que privilegie uns pode ser igualitário. Talvez na próxima mudança (se houver) a humanidade acerte.

Por isso tudo (e alguns outros pequenos detalhes) eu declaro que anularei meu voto “de cabo a rabo”.

DECLARAÇÃO

Demorei para entender o que sinto por ti:
Lascívia... luxúria... concupiscência...

Pensei que era amor, mas não...
Talvez um dia fosse - não há como saber!
Com o amor eu sei lidar.
Consigo sufocar... até matar.

Mas a libertinagem... Ah! Essa é incontrolável!
Não há pudor para o lúbrico que toma conta de mim,
Querendo teus cabelos entre meus dedos,
Ou até te prender pra satisfazer minha libido.
Te fazer gemer, gritar, tremer, arranhar, morder...

Aquela vontade de ocupar teu corpo todo...
De invadir cada espaço
Com a boca,
Com a língua,
Com as mãos e todos os dedos.
Abrir caminho pra te possuir,
Das únicas maneiras que eu gosto de possuir alguém:
Sendo possuído... tragado... devorado...

Sem nada entre a tua pele e a minha
Que não tenha emanado do meu corpo ou do teu...

E fazer isso repetidas vezes.
Inúmeras vezes.
Voltando ao começo ou a um ponto qualquer.
Tirando ou pondo o que der vontade.
Mas buscando sempre o mesmo:
Teu prazer... e o meu!

ANTOLHOS

É só o que vejo

Nas opiniões
Nas ações
Nas religiões
Na política
Nas críticas
No pessoal
No profissional
Nos afazeres
Nos dizeres
Nos prazeres
Nos quartos
Nas salas
Nas cozinhas
Nas entrelinhas
Nas minhas
Nas tuas
Nas ruas
Nos coletivos
Nos seletivos
Nos eletivos
Nos vivos
Nos vidros
Nos indivíduos
Nos pensamentos
Nos lamentos
Nos dissabores
Nos valores
Nos amores

É só o que vejo...

Cartas na mesa

Eu sou uma pessoa de opiniões e convicções. Posso mudá-las a qualquer momento, desde que os argumentos sejam convincentes. Sem rótulos ou padrões, existem questões essenciais que me definem bem. Este é um resumo delas:

LIBERDADE: Esta é a questão fundamental, e recorrente em todas as demais. Sempre defendo, em qualquer situação, a liberdade individual e coletiva. Toda ideologia é permitida como tal, ainda que autoritária (como o fascismo), intolerante (como a homofobia ou o racismo), parcial (como o neoliberalismo), sectária (como os xiitas), sexista (como o machismo), etc. Não se pode restringir o pensamento ou o desejo de qualquer pessoa. Mas também não é possível impor sua vontade aos demais. Reconheço que quanto mais liberdade temos, menos seguros estamos - e neste caso sempre escolherei ser livre a estar plenamente seguro.
Nenhuma pessoa pode ser obrigada a nada, seja por outra(s) pessoa(s), seja por organizações.

RESPEITO/EMPATIA: Talvez seja o mais próximo de "regra máxima" que eu tenho para mim e tento difundir. Com meus filhos, estabelecemos uma definição simples de respeito que é o clássico "não fazer aos outros o que não se deseja a si".
Somos livres, mas nossa liberdade deve ser pautada por respeito e empatia com os demais.

POLÍTICA: Estado/Governo regulador são desnecessários. É possível que a auto-gestão  em relações sociais de qualquer porte, com ou sem lideranças, desde que o objetivo seja comum e não individual. O Estado/Governo é uma estrutura criada tendo a própria manutenção como finalidade principal. Anarquia é diferente de Desgoverno. Não existir um Estado/Governo é diferente de não existir ética, moral, ordem ou até regras e leis - mas estas devem ser livremente aceitas e não impostas hierarquicamente. Crimes, por exemplo, não deixam de ocorrer num passe de mágica, mas a grande maioria dos crimes ocorre em virtude do capital e da propriedade. Quantos crimes sobrariam se estes não existissem?
As pessoas são livres para se organizarem ideologicamente, desde que não subjuguem aquelas que não compartilham de sua ideologia, respeitando sua liberdade.

DEMOCRACIA: Uma das maiores falácias da humanidade. Cria-se a ilusão de que as minorias devem submeter-se às decisões da maioria. Na impossibilidade de uma decisão unânime, a democracia transforma-se, na prática do Estado/Governo, na ditadura ideológica da maioria. Isso sem falar em manipulação (institucional ou setorizada) da Opinião Pública. Em casos de disputa acirrada, como em uma eleição majoritária onde o vencedor tem, por exemplo, 51,5%, e o derrotado conta com 48,5% dos votos válidos, a chance de instabilidade é muito grande - que o diga a história recente.
O ideal seria a Democracia Direta, que se mostrou impraticável em grupos sociais muito numerosos. Entretanto, concentrações demográficas cada vez maiores, onde a coletividade tende a desaparecer, são consequência da estrutura capitalista.
As decisões das maiorias não podem ser impostas às minorias, pois todos indivíduos são livres para decidirem por e sobre si.

RELIGIÃO/FÉ: Toda e qualquer religião é mitologia, extinta ou não. O ser humano cria seu(s) deus(es) e não o contrário. Não há provas de que exista uma entidade (ou mais de uma, nas mitologias politeístas) que "administre" a realidade. A resposta mitológica ou religiosa sempre é a mais simples, definitiva e sem provas, por isso se chama "fé". Crer ou descrer não pode ser uma imposição, mas é algo culturalmente transmitido através das gerações.
As pessoas são livres para terem qualquer fé - inclusive nenhuma - e que não imponham sua fé (ou falta dela) aos demais.

AMOR/RELACIONAMENTO: Esta talvez seja a maior falácia de todas. O amor é, sim, supervalorizado. A necessidade de amar e ser amado incondicional e eternamente por um único alguém é a maior das utopias. Há diversas formas de afeto - e nem todas são acompanhadas de libido. E também o desejo sexual não está exclusivamente atrelado ao amor. Por fim, o casamento como instituição é uma forma de cercear as liberdades de ambos - é um documento onde cada indivíduo declara-se propriedade do outro na forma de uma escravidão voluntária. Todo relacionamento tem por base não o amor, mas o interesse mútuo em manter-se.
Todo indivíduo é livre para amar, desejar e se relacionar com qualquer outro indivíduo que compartilhe as mesmas intenções.

SEXUALIDADE: O trinômio Hetero/Bi/Homo é simplista demais. Biologicamente falando, e sempre generalizando, existem as características genéticas de cada gênero, os genótipos (esta cacofonia foi intencional): basicamente XX e XY, ou feminino e masculino. A manifestação física deste genótipo, em interação com o ambiente, cria o fenótipo, que não está necessariamente ligado ao gênero: assim podemos ter uma pessoa XX alta, outra XY baixa, etc.
Além disso, existem os esterótipos de gênero, que são exclusivamente culturais, e mudam conforme o tempo e o lugar. Mesmo com as idas e vindas da moda, o visual másculo ocidental de hoje é muito diferente daquele de 50 anos atrás, e será muito diferente dentro de 50 anos.
Junto a isto, existe a libido (que também é ao mesmo tempo natural e cultural). E a libido é muito subjetiva. Vou usar termos bem estereotipados para me fazer entender: Há homens magros que sentem atração por mulheres gordas. Há mulheres gordas que sentem atração por homens feminilizados. Há homens altos e fortes que sentem atração por homens baixos e gordos e também por mulheres masculinizadas. Há homens feminilizados que não sentem atração por homens. Há homens extremamente másculos que sentem prazer quando são sodomizados por mulheres extremamente femininas. Há, enfim, toda espécie de libido - para alguns até algumas práticas são inimagináveis ou repulsivas, mas existem. Portanto, não podemos ser apenas XX e/ou XY que "gosta" de XX e/ou XY.
Todo indivíduo é livre para sentir prazer com qualquer outro indivíduo que compartilhe dos mesmos desejos.

PESSIMISMO/REALISMO: Não vejo, em qualquer nível, motivos para existir esperança de melhora na humanidade. Nossa sociedade se desenvolveu sobre pilares inadequados que já parecem ter começado a ruir. Como já disse em diversas oportunidades: o ser humano e uma espécie parasitária, cuja extinção seria benéfica ao planeta. Caso não sejamos extintos por nossas próprias escolhas, espero que os sobreviventes sejam capazes de construir uma nova sociedade com uma base melhor e mais sólida.
Todo fim é um novo começo. Façamos melhor da próxima vez, se tivermos chance.

PRAGMATISMO/RESILIÊNCIA: Por fim, mesmo parecendo (e pensando como) um pária, eu escolhi viver em sociedade. Para tanto, eu preciso me adaptar e sobreviver da melhor maneira possível, mas me mantendo coerente com minhas ideias e ideais.
Não posso fazer o mundo de acordo com meus ideais, mas posso me adaptar a ele sem mudar a mim mesmo.

Em tempo: este texto (e, portanto, minha opinião a respeito das coisas) está em constante revisão, podendo ser alterado a qualquer momento sem aviso prévio ou posterior.

GILMOUR - PORTO ALEGRE - 16 DE DEZEMBRO DE 2015

Um depoimento:

Se alguém me perguntasse no começo de 2015 quais shows eu gostaria de assistir, David Gilmour não estaria na lista por ser, naquele momento, algo mais que improvável - impossível, quase utópico. Começaram os boatos e eu nem liguei. Já tinha passado metade do ano. Vieram confirmações extra-oficiais de fontes confiáveis - e eu desconfiei. Mas, então, virou oficial. Logo em seguida estava no site oficial. Não acreditei. Não consegui ir comprar no primeiro dia, mas não demorei uma semana, fazendo contas para ir na melhor localização possível. Acho que só com o ingresso na mão é que a ficha caiu. Fui até o Barra Shopping só pra isso. Saí de lá meio que criança correndo pelo estacionamento.
Meu filho, Guilherme, queria ir comigo. Mas não podia. Somente acima dos 12 anos - ele tem 10. Entrei em contato com a produtora. Nada podia ser feito. Pensei em levar mesmo assim, dizer que esqueci o documento em casa, alguma coisa do tipo... Mas aí pensei que a decepção de chegar lá e não poder entrar poderia ser maior ainda. Iria mesmo sozinho.

Ouvi o disco novo no final de semana - e soou como se já conhecesse.

Fui direto do trabalho. Enfrentei tumulto na "revista". Fiquei na fila. Entrei. Escolhi minuciosamente o lugar e me sentei. E esperei mais de 2 horas ali - ficava em pé, sentava, conversava com as pessoas em volta, mas sem sair dali - no melhor lugar possível. Mais ouvi que vi o show de abertura. Prestava atenção nas pessoas enchendo aos poucos a Arena. Os lugares ao meu lado foram sendo ocupados. O céu foi escurecendo...

E as luzes apagaram...
Quando as luzes se apagam é porque chegou a hora. Eram 20:56...

E assim que as luzes do palco acenderam eu fui hipnotizado. Não conseguia olhar para os lados. Não sentia sede, nem fome, nem calor, nem frio, nem dor, nem vontade de ir ao banheiro. Em alguns momentos até deixei de respirar, provavelmente. Entre uma música e outra eu olhava para o céu, para os lados, respirava fundo, tirava o celular do bolso pra tentar mandar algumas imagens e áudio para pessoas especiais. Espero que estas pessoas perdoem a qualidade ruim das imagens pois eu não olhava para a tela do celular, e sim para o palco.

Uma das coisas que me passava pela cabeça era justamente: "Como é possível essas pessoas conversando, rindo, mexendo no celular, se levantando pra ir ao banheiro ou comprar alguma coisa? Como é possível alguém não ficar hipnotizado neste show?" Me deu vontade de fazer "shh!" várias vezes. Ou até empurrar o vendedor de alguma coisa qualquer para ele andar mais rápido quando passou pela minha frente.

Chorei... em vários momentos e por vários motivos diferentes. Em "Wish You Were Here" foi pelo Guilherme. Eu desejava muito que ele estivesse ali, comigo. Mesmo sabendo que se ele estivesse, eu não conseguiria manter o silêncio auto-imposto. Gilmour teria alguém com quem dividir minha atenção. Imagino que ele entenderia. Desconfio até que perdoaria.

Um descanso. Meu cérebro em transe entendeu que era só um descanso para os músicos e não para mim. Segui no mesmo lugar, do mesmo jeito. E nem sei se foram os 15 minutos anunciados, mas já na primeira música de retorno eu entendi que tinha sido um descanso pra mim também. As luzes dançavam. As luzes praticamente cantavam e solavam junto com a guitarra, o sax, o teclado... As luzes não são um show à parte em se tratando de David Gilmour - elas são parte do show. Um bom tempo depois se fez de conta que terminou - mas as luzes seguiam apagadas e quase todos seguíamos nos mesmos lugares assobiando, gritando, aplaudindo, aguardando. Então a banda voltou para mais alguns preciosos minutos.

E terminou.

Gilmour agradeceu várias vezes ao longo do show e tudo o que eu queria dizer pra ele era que quem agradece sou eu. Obrigado, de fato!

Ele chegou a falar algo como "nos vemos um dia desses" e espero que ele saiba que desta vez eu levei a sério.

Este saiu da lista "shows que ainda vou ver". Mas agora eu criei uma lista nova: "shows que eu verei sempre que possível". Por enquanto esta lista só tem um nome.

Espero que ele volte daqui a 2 anos, quando o Guilherme estiver com 12. E que volte novamente 2 anos depois, quando a Isabela estiver com 12. E que vire um show bienal. Mas se ele voltar antes disso, Guilherme e Isabela vão entender e perdoar.

SOBRE RIO DOCE/NIGÉRIA/SÍRIA/FRANÇA/AQUECIMENTO GLOBAL/HIROSHIMA/HOLOCAUSTO/CRUZADAS/CAIM E ABEL

Não é a tragédia evitável, nem a religião, nem deus(es) ou demônio(s) que matam. São as pessoas...

Entenderam? SÃO AS PESSOAS!

Eu, tu, teus pais, teus filhos... todos... não passamos de animais que pensam ser, sempre, a última bolacha do pacote. O suprassumo da evolução. Os escolhidos. Os donos do mundo e da verdade. 

Mas não passamos de predadores parasitas. Os melhores que já existiram. Somos máquinas de matar, e somos inteligentes. Por isso, usamos nossa inteligência para matar. O que me faz colocar uma ponta de dúvida nesta inteligência é o fato de que fazemos de tudo para colocar nossa própria existência em risco. E tentamos justificar nossa matança sempre colocando a culpa nos outros. É sempre por que os outros não são como nós, ou por que os outros não nos aceitam como somos, ou por que nos julgamos superiores aos outros. Quando não é ação, é reação.

Tem pelo menos uma coisa em que a Bíblia acerta em cheio, logo no começo: mesmo sendo seu irmão, Caim matou Abel. Por ódio. Por acreditar que deus preferia Abel, e ele é que deveria ser o preferido. Quem ler com olhos ocidentais é capaz de acreditar que Caim é o Islã, enquanto Abel são os cristãos, mas o Corão também tem Caim e Abel (surpreendam-se lendo: http://www.islamreligion.com/pt/articles/1197/historia-de-adao-parte-4-de-5/).

Matando ou morrendo, Caim sempre são os outros.
#todossomosabel
#todossomos(escrevaaquionomedavitimadavez)

E o que o Rio Doce tem a ver* com isso? Ora... pode não haver* intolerância no ocorrido, mas não é o ser humano destruindo a si mesmo por convicção ou desejo de ser superior aos outros? E há quem acredite que isso tudo faça parte de um plano maior (divino, demoníaco, alienígena ou "Illuminati"). E o que tem a ver* o Aquecimento Global? Eu já disse que somos parasitas, não disse?

São as pessoas que matam... e são as pessoas que morrem. Não tem céu... Não tem inferno... Não tem alma... Não tem poder superior... Não tem nada... NADA!

E não adianta colorir foto nem compartilhar indignação. Cedo ou tarde a humanidade vai ser extinta - cada vez mais cedo, se depender dela mesma. E querem saber? O mundo vai ser melhor quando este dia chegar. Sorte dos tardígrados.


* ora, vejam só: usei "a ver" e "haver" no mesmo parágrafo...

(In) Satisfação

Foi pelo descontentamento com a vida nas árvores que um certo primata desceu. Também pela insatisfação de andar em quatro patas que começou a andar em duas. O ser humano é, por natureza e definição, um insatisfeito. Do contrário, seria apenas mais um dos animais. Não teria descoberto como dominar o fogo, pois estaria satisfeito em comer alimentos crus. O extrativismo e a caça deixaram de atender às expectativas de nossos ancestrais primitivos, que começaram a cultivar a terra e criar. Não teria sido inventada a roda, caso estivéssemos satisfeito em transportar objetos que nossa própria força física permitisse. Não teríamos conquistado outros territórios ou navegado em direção ao desconhecido, se nossos 'domínios' nos satisfizessem. Os povos menos 'civilizados', menos 'evoluídos', são justamente aqueles mais satisfeitos com suas realidades.

Nas palavras de Thomas A. Edison (o inventor, entre outras coisas, da lâmpada elétrica): "A insatisfação é a principal motivadora do progresso." Aldous Huxley (autor de "Admirável Mundo Novo") cunhou "Devemos o progresso aos insatisfeitos". E Oscar Wilde (autor de "O Retrato de Dorian Grey"), da mesma forma, disse: "O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação".

A inconformidade de não sabermos explicar os fenômenos à nossa volta fez com que buscássemos compreender o ambiente, a natureza. E do mesmo modo queríamos entender os fenômenos que ocorriam dentro de nossas mentes - ou almas. Assim surgiram, em primeiro lugar, as Mitologias e as Religiões. Mas alguns ainda não estavam plenamente satisfeitos com as explicações das mais diversas mitologias e religiões e surgiu, então, a Filosofia. Aprofundando a insatisfação, precisávamos provar através de métodos empíricos (experiências) aquilo em que acreditávamos (ou talvez seja melhor dizer: aquilo de que duvidávamos), e assim surgiram, por fim, a Ciência e a Tecnologia.

A necessidade nos reuniu em comunidades e surgiram as relações de Poder e, com o fim do nomadismo, de Propriedade. Após, para uma melhor interação de mercado, entre comunidades ou dentro da mesma, passou-se a atribuir valor às coisas - e, com o tempo, ao trabalho e até às próprias pessoas - dando origem ao dinheiro e ao Capital. E a união de Poder, Propriedade e Capital conseguiu gerar ainda mais insatisfação através da constante busca pela manutenção e/ou conquista de mais Poder, Propriedade e Capital.

Desde o início, Poder, Propriedade e Capital, concentram-se nas mãos de uma minoria. De maneira natural e gradual, as maiorias insatisfeitas sempre acabam se organizando e buscando alterar o quadro. Infelizmente, o resultado é uma nova concentração apenas incorporando algumas lideranças da maioria, que continuará à margem e, em breve, estará novamente insatisfeita. Assim era na época dos clãs e das tribos, mas também foi no Médio Império Egípcio, na Queda de Constantinopla, na Revolução Francesa, no início e no fim da União Soviética, na eleição de Lula, etc.

Mas uma coisa é certa: sempre há uma evolução. Mesmo quando estes movimentos parecem retrocessos - o que, na verdade, pode ser melhor comparado com as ondas ou as marés. Mesmo quando resulta em avanços aparentemente pequenos. Do contrário não teríamos os direitos trabalhistas nem o voto universal - ou, antes disso, não haveria nem a democracia - mesmo que a maioria seja manipulável. Mulheres que hoje criticam publicamente o feminismo sabem que só podem fazer isto graças às feministas que lutam há muitas décadas? Que há menos de 100 anos isso não seria possível? Defensores do livre mercado não podem esquecer das liberdades individuais (leiam Utopia, de Thomas More), nem que sua visão só foi possível depois da problematização exposta pelo Marxismo. Militaristas que enchem a boca para chamar Getúlio Vargas de "O Pai dos Pobres" têm consciência de que os trabalhadores só tem os direitos atuais às custas de muitas vidas de escravos ou de Anarquistas e Socialistas sindicalizados?

É preciso respeitar a insatisfação alheia, mesmo que estejamos satisfeitos. Podemos fazer parte da minoria privilegiada ou não nos demos conta de que falta nossa fatia do bolo ou, ainda, somos daquele tipo de grão de areia que a onda leva para onde bem entende. Fica a certeza de que qualquer conquista é para todos - insatisfeitos ou não.



Leiam mais e, por favor, não se contentem somente com os links indicados abaixo. Se quiserem, sugiram outros links através dos comentários. Façam suas próprias pesquisas e tirem suas próprias conclusões:

http://www.deuscienciaereligiao.com/2008/03/os-4-pensamentos-evolucao-do-pensamento_20.html


http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/conhecer-o-mundo-mitologia-religiao-ciencia-filosofia-senso-comum.htm

https://diogenesdefreitas.wordpress.com/historia-do-sindicalismo-2/

http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2909:catid=28&Itemid=23








HÁ ALGO MENOS HUMANO QUE O SER HUMANO?

"O motor principal e fundamental no homem, bem como nos animais, é o egoísmo, ou seja, o impulso à existência e ao bem-estar." (Schopenhauer)


Pode ser pessimismo meu (mesmo que eu não seja amargo como o autor da frase acima), mas não consegui - ao menos ainda - aderir à ideia de que o ser humano é naturalmente cooperativo. Se isto ocorre é meramente em busca da própria sobrevivência ou de benefícios pessoais. Na melhor das hipóteses é em defesa da própria linhagem (família) ou algum vínculo afetivo.

Eu concordo com Sartre em diversas questões (nem sempre plenamente), mas principalmente quando ele sugere que não há objetivo na existência humana. O que nos diferencia dos animais é a consciência reflexiva, que muitos chamam de "alma". No entanto, ainda na visão de Sartre da qual eu compartilho, a pessoa passa a ser o que projeta de si. Primeiro cria-se uma definição de si mesmo que, depois, se põe em prática. É mais ou menos como criar um personagem para si, e ir improvisando na interpretação durante toda a vida. Em outras palavras posso dizer que a tal "alma", que é o que nos faz humanos, é algo criado por nossa própria inteligência. Isto praticamente reverte o senso comum (principalmente religioso) que estabelece a inteligência como inerente à alma, e não o oposto.

É claro que a criação deste personagem (ou desta alma) não é totalmente autônoma. Depende de uma série de fatores internos e externos, como o ambiente onde nos desenvolvemos, a carga genética e cultural, as escolhas que fazemos (ou fazem por nós) durante o desenvolvimento, etc. Mas uma coisa é certa: o ser humano sente prazer em desvalorizar o alheio para valorizar a si próprio. Leandro Karnal apresenta esta mesma ideia, porém de uma maneira muito mais genial, através de sua costumeira didática: http://www.cpflcultura.com.br/2013/04/12/o-pecado-envergonhado-a-inveja-e-a-tristeza-sobre-a-felicidade-alheia-leandro-karnal/

Outro ponto importante é a arrogância do ser humano em se colocar como "a última bolacha do pacote". Já começa pelo fato de acreditar em uma divindade da qual é "a criação favorita, à sua imagem e semelhança". Um arrogante que se preze não aceita ser identificado como tal. Afinal de contas, a própria arrogância o impede de admitir isso. Sem contar que esta mesma divindade pura e simplesmente DEU de presente ao ser humano um planeta inteiro cheio de criaturas inferiores (e em inúmeras interpretações deste desígnio divino, isto inclui variações do próprio homo sapiens) que estão aqui apenas para serem subjugadas.

A natureza humana é, enfim, arrogante, invejosa, egoísta, predatória e - por que não dizer? - parasitária. Repito aqui um pensamento já conhecido entre meus amigos: O Homo Sapiens é a única espécie cuja extinção seria benéfica ao planeta. Isso remete um pouco à Etologia de Konrad Lorenz ou ao "homem como lobo do próprio homem" de Thomas Hobbes. Além de ser um predador insaciável de tudo que há em sua volta, o ser humano é um predador de si. Mesmo quando se organiza em grupos, o objetivo principal não deixa de ser o bem estar próprio ou de seu grupo. Não somos como abelhas ou formigas com sua hierarquia rígida e harmônica (o sistema de castas, na Índia, é o mais próximo deste modelo). Não conseguimos - sem regras - agir coletivamente. E, mesmo quando as regras (leis e códigos de ética formais ou informais) nos conduzem dessa maneira, não é algo que faça parte de nossa natureza. Sempre haverá o desejo de sobrepujar as outras espécies ou a própria.

Portanto, não há nada menos humano que o que se atribui ao termo humano: bondade, generosidade, altruísmo, tolerância, empatia, etc.





Leiam mais e, por favor, não se contentem somente com os links indicados abaixo. Façam suas próprias pesquisas e tirem suas próprias conclusões:

https://psicologado.com/abordagens/humanismo/existencialismo-jean-paul-sartre

http://www.hottopos.com/convenit2/nathump.htm

http://anfic.org/as-sete-teorias-sobre-a-natureza-humana/

http://ruipaz.pro.br/textos/paradigma.pdf

http://www.estudantedefilosofia.com.br/conceitos/ontologia.php

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-31732003000100004&script=sci_arttext

http://www.mundodosfilosofos.com.br/hobbes.htm

http://www.prof2000.pt/users/secjeste/alternativas09/pg000100.htm

http://globalherit.hypotheses.org/1542

https://axiodrama.wordpress.com/teoria-base/etologia/






Hun

I think 'bout you every day,
And I hope this will find you well.
But if it doesn't, hun,
I hope you will be fine, anyway.