(In) Satisfação

Foi pelo descontentamento com a vida nas árvores que um certo primata desceu. Também pela insatisfação de andar em quatro patas que começou a andar em duas. O ser humano é, por natureza e definição, um insatisfeito. Do contrário, seria apenas mais um dos animais. Não teria descoberto como dominar o fogo, pois estaria satisfeito em comer alimentos crus. O extrativismo e a caça deixaram de atender às expectativas de nossos ancestrais primitivos, que começaram a cultivar a terra e criar. Não teria sido inventada a roda, caso estivéssemos satisfeito em transportar objetos que nossa própria força física permitisse. Não teríamos conquistado outros territórios ou navegado em direção ao desconhecido, se nossos 'domínios' nos satisfizessem. Os povos menos 'civilizados', menos 'evoluídos', são justamente aqueles mais satisfeitos com suas realidades.

Nas palavras de Thomas A. Edison (o inventor, entre outras coisas, da lâmpada elétrica): "A insatisfação é a principal motivadora do progresso." Aldous Huxley (autor de "Admirável Mundo Novo") cunhou "Devemos o progresso aos insatisfeitos". E Oscar Wilde (autor de "O Retrato de Dorian Grey"), da mesma forma, disse: "O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação".

A inconformidade de não sabermos explicar os fenômenos à nossa volta fez com que buscássemos compreender o ambiente, a natureza. E do mesmo modo queríamos entender os fenômenos que ocorriam dentro de nossas mentes - ou almas. Assim surgiram, em primeiro lugar, as Mitologias e as Religiões. Mas alguns ainda não estavam plenamente satisfeitos com as explicações das mais diversas mitologias e religiões e surgiu, então, a Filosofia. Aprofundando a insatisfação, precisávamos provar através de métodos empíricos (experiências) aquilo em que acreditávamos (ou talvez seja melhor dizer: aquilo de que duvidávamos), e assim surgiram, por fim, a Ciência e a Tecnologia.

A necessidade nos reuniu em comunidades e surgiram as relações de Poder e, com o fim do nomadismo, de Propriedade. Após, para uma melhor interação de mercado, entre comunidades ou dentro da mesma, passou-se a atribuir valor às coisas - e, com o tempo, ao trabalho e até às próprias pessoas - dando origem ao dinheiro e ao Capital. E a união de Poder, Propriedade e Capital conseguiu gerar ainda mais insatisfação através da constante busca pela manutenção e/ou conquista de mais Poder, Propriedade e Capital.

Desde o início, Poder, Propriedade e Capital, concentram-se nas mãos de uma minoria. De maneira natural e gradual, as maiorias insatisfeitas sempre acabam se organizando e buscando alterar o quadro. Infelizmente, o resultado é uma nova concentração apenas incorporando algumas lideranças da maioria, que continuará à margem e, em breve, estará novamente insatisfeita. Assim era na época dos clãs e das tribos, mas também foi no Médio Império Egípcio, na Queda de Constantinopla, na Revolução Francesa, no início e no fim da União Soviética, na eleição de Lula, etc.

Mas uma coisa é certa: sempre há uma evolução. Mesmo quando estes movimentos parecem retrocessos - o que, na verdade, pode ser melhor comparado com as ondas ou as marés. Mesmo quando resulta em avanços aparentemente pequenos. Do contrário não teríamos os direitos trabalhistas nem o voto universal - ou, antes disso, não haveria nem a democracia - mesmo que a maioria seja manipulável. Mulheres que hoje criticam publicamente o feminismo sabem que só podem fazer isto graças às feministas que lutam há muitas décadas? Que há menos de 100 anos isso não seria possível? Defensores do livre mercado não podem esquecer das liberdades individuais (leiam Utopia, de Thomas More), nem que sua visão só foi possível depois da problematização exposta pelo Marxismo. Militaristas que enchem a boca para chamar Getúlio Vargas de "O Pai dos Pobres" têm consciência de que os trabalhadores só tem os direitos atuais às custas de muitas vidas de escravos ou de Anarquistas e Socialistas sindicalizados?

É preciso respeitar a insatisfação alheia, mesmo que estejamos satisfeitos. Podemos fazer parte da minoria privilegiada ou não nos demos conta de que falta nossa fatia do bolo ou, ainda, somos daquele tipo de grão de areia que a onda leva para onde bem entende. Fica a certeza de que qualquer conquista é para todos - insatisfeitos ou não.



Leiam mais e, por favor, não se contentem somente com os links indicados abaixo. Se quiserem, sugiram outros links através dos comentários. Façam suas próprias pesquisas e tirem suas próprias conclusões:

http://www.deuscienciaereligiao.com/2008/03/os-4-pensamentos-evolucao-do-pensamento_20.html


http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/conhecer-o-mundo-mitologia-religiao-ciencia-filosofia-senso-comum.htm

https://diogenesdefreitas.wordpress.com/historia-do-sindicalismo-2/

http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2909:catid=28&Itemid=23








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