GILMOUR - PORTO ALEGRE - 16 DE DEZEMBRO DE 2015

Um depoimento:

Se alguém me perguntasse no começo de 2015 quais shows eu gostaria de assistir, David Gilmour não estaria na lista por ser, naquele momento, algo mais que improvável - impossível, quase utópico. Começaram os boatos e eu nem liguei. Já tinha passado metade do ano. Vieram confirmações extra-oficiais de fontes confiáveis - e eu desconfiei. Mas, então, virou oficial. Logo em seguida estava no site oficial. Não acreditei. Não consegui ir comprar no primeiro dia, mas não demorei uma semana, fazendo contas para ir na melhor localização possível. Acho que só com o ingresso na mão é que a ficha caiu. Fui até o Barra Shopping só pra isso. Saí de lá meio que criança correndo pelo estacionamento.
Meu filho, Guilherme, queria ir comigo. Mas não podia. Somente acima dos 12 anos - ele tem 10. Entrei em contato com a produtora. Nada podia ser feito. Pensei em levar mesmo assim, dizer que esqueci o documento em casa, alguma coisa do tipo... Mas aí pensei que a decepção de chegar lá e não poder entrar poderia ser maior ainda. Iria mesmo sozinho.

Ouvi o disco novo no final de semana - e soou como se já conhecesse.

Fui direto do trabalho. Enfrentei tumulto na "revista". Fiquei na fila. Entrei. Escolhi minuciosamente o lugar e me sentei. E esperei mais de 2 horas ali - ficava em pé, sentava, conversava com as pessoas em volta, mas sem sair dali - no melhor lugar possível. Mais ouvi que vi o show de abertura. Prestava atenção nas pessoas enchendo aos poucos a Arena. Os lugares ao meu lado foram sendo ocupados. O céu foi escurecendo...

E as luzes apagaram...
Quando as luzes se apagam é porque chegou a hora. Eram 20:56...

E assim que as luzes do palco acenderam eu fui hipnotizado. Não conseguia olhar para os lados. Não sentia sede, nem fome, nem calor, nem frio, nem dor, nem vontade de ir ao banheiro. Em alguns momentos até deixei de respirar, provavelmente. Entre uma música e outra eu olhava para o céu, para os lados, respirava fundo, tirava o celular do bolso pra tentar mandar algumas imagens e áudio para pessoas especiais. Espero que estas pessoas perdoem a qualidade ruim das imagens pois eu não olhava para a tela do celular, e sim para o palco.

Uma das coisas que me passava pela cabeça era justamente: "Como é possível essas pessoas conversando, rindo, mexendo no celular, se levantando pra ir ao banheiro ou comprar alguma coisa? Como é possível alguém não ficar hipnotizado neste show?" Me deu vontade de fazer "shh!" várias vezes. Ou até empurrar o vendedor de alguma coisa qualquer para ele andar mais rápido quando passou pela minha frente.

Chorei... em vários momentos e por vários motivos diferentes. Em "Wish You Were Here" foi pelo Guilherme. Eu desejava muito que ele estivesse ali, comigo. Mesmo sabendo que se ele estivesse, eu não conseguiria manter o silêncio auto-imposto. Gilmour teria alguém com quem dividir minha atenção. Imagino que ele entenderia. Desconfio até que perdoaria.

Um descanso. Meu cérebro em transe entendeu que era só um descanso para os músicos e não para mim. Segui no mesmo lugar, do mesmo jeito. E nem sei se foram os 15 minutos anunciados, mas já na primeira música de retorno eu entendi que tinha sido um descanso pra mim também. As luzes dançavam. As luzes praticamente cantavam e solavam junto com a guitarra, o sax, o teclado... As luzes não são um show à parte em se tratando de David Gilmour - elas são parte do show. Um bom tempo depois se fez de conta que terminou - mas as luzes seguiam apagadas e quase todos seguíamos nos mesmos lugares assobiando, gritando, aplaudindo, aguardando. Então a banda voltou para mais alguns preciosos minutos.

E terminou.

Gilmour agradeceu várias vezes ao longo do show e tudo o que eu queria dizer pra ele era que quem agradece sou eu. Obrigado, de fato!

Ele chegou a falar algo como "nos vemos um dia desses" e espero que ele saiba que desta vez eu levei a sério.

Este saiu da lista "shows que ainda vou ver". Mas agora eu criei uma lista nova: "shows que eu verei sempre que possível". Por enquanto esta lista só tem um nome.

Espero que ele volte daqui a 2 anos, quando o Guilherme estiver com 12. E que volte novamente 2 anos depois, quando a Isabela estiver com 12. E que vire um show bienal. Mas se ele voltar antes disso, Guilherme e Isabela vão entender e perdoar.

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