Pessimismo e Felicidade (Respirando Fundo)

De acordo com Ariano Suassuna “o otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.” Eu poderia ir adiante, e dizer que o feliz é um acomodado. E que a Felicidade (assim mesmo, com letra maiúscula) é uma mentira que se conta - geralmente para si mesmo. Vale a pena, então, uma outra citação - de Pierre Lèvy, em seu livro O Fogo Liberador: "Você vive para contar o que faz para os outros, para si mesmo ou você simplesmente vive aqui e agora?"

A Felicidade, sonho de consumo de 11 em cada 10 seres humanos padrão, pode ser traduzida de maneira simplista como "a inexistência de preocupações" - não que seja um conceito bem firmado, digamos assim. A Felicidade faz parte de alguns conceitos indefiníveis (como os nomes das cores, por exemplo) e talvez só seja menos difícil de explicar que o conceito de Amor. A Felicidade é, no senso comum, o estado de quem se sente feliz. E sentir-se feliz é algo simples, mas ao mesmo tempo momentâneo, efêmero e transitório. É a velha diferença entre ser e estar - felizmente(!) em português existe esta diferenciação para facilitar a compreensão.

Para muitos, a simples busca pela Felicidade nos torna infelizes. Segundo outros tantos o erro está em fazermos esta busca fora de nós mesmos. Autores de auto-ajuda enriquecem (e talvez sintam-se felizes com isso) vendendo fórmulas prontas para a Felicidade - normalmente, neste caso, associada ao sucesso emocional e/ou financeiro. Líderes religiosos apregoam que esta é uma existência de sofrimentos cujo objetivo é nos preparar para a Felicidade em outro plano/mundo/existência.

Em relacionamentos interpessoais a Felicidade acaba sendo projetada na(s) outra(s) pessoa(s). Eu mesmo, no final de um longo relacionamento, já declarei: "sinto saudades de quando me via feliz e imaginava te fazer feliz". Pode parecer bem romântico, mas se analisar friamente é apenas ilusão. Ilusões até inocentes de que somente se é feliz quando fatores externos nos deixam felizes. São os Príncipes Encantados, as Almas Gêmeas, as metades-da-laranja, os sapatos-velhos-para-pés-cansados, etc. E temos a música/literatura corroborando adágios do tipo "andorinha só não faz verão" e "impossível ser feliz sozinho".

Uma visão, para mim, muito útil destas questões é encontrada na Doutrina Budista*, remetendo às Quatro Nobres Verdades: "Toda dor vem do desejo de não sentirmos dor" (esta frase NÃO é do Renato Russo, e sim de um mestre Zen Budista chamado Daisetsu Teitaro Suzuki). E a única maneira de evitar o sofrimento (o que levaria ao Nirvana - a Felicidade absoluta) é o desapego.

Este é, talvez, o ponto central da minha vida - tanto agora quanto no passado. Eu sempre tive um desapego inato, mas durante muito tempo tentei lutar contra isso. Isso não quer dizer que eu me considero melhor ou mais evoluído, apenas estou concluindo que eu já tentei muito, e de diversas maneiras diferentes, pensar e agir da maneira padrão. Já tentei me apegar (no sentido de me sentir posse ou possuidor) a sentimentos, coisas e pessoas mas sem sucesso. Cheguei a um determinado momento em minha vida - e, coincidentemente ou não, este momento veio depois da paternidade - em que tudo me pareceu tão sem sentido que acabei abrindo mão de qualquer tentativa de ser o que se esperava de mim.

Não há carreira profissional, emprego, dinheiro, relacionamento, atividade física, ou qualquer outra coisa que vá me tornar permanentemente feliz. E também não há nada que vá me fazer permanentemente infeliz. As oscilações entre momentos felizes e infelizes são sempre preenchidas por períodos de "estabilidade". Resta apenas não me entusiasmar com os bons e nem me frustrar com os ruins.

E tudo deixa de ser problema a partir do momento em que não crio expectativas sobre mim mesmo, evitando frustrações. E, ao mesmo tempo, não me preocupo mais em decepcionar os outros, pois estas são as expectativas deles - que estão muito longe do meu controle. Eu já escrevi antes sobre este assunto. Cheguei a ouvir de alguém muito especial que: "pra quem se diz pessimista, muitas vezes teu otimismo me agrada". Mas a verdade é que eu não sou nem propriamente um pessimista. Seria melhor dizer que eu simplesmente "não me apego".

Mais uma vez, o pouco do budismo que eu uso em minha vida me dá um rumo: RESPIRAÇÃO. Inspirar profundamente e expirar completamente. Não é preciso nem sentar-se na posição clássica de meditação. Não é preciso entoar nenhum mantra. Não é preciso se imaginar uma árvore. Basta respirar fundo. Os batimentos cardíacos desaceleram e todo o organismo trabalha melhor com a oxigenação do sangue. Tanto o entusiasmo quanto a frustração se dissipam e nosso corpo se torna um catalisador de nossos sentimentos.

Respire assim:
Gif para acalmar

Uma das tarefas mais difíceis na existência humana é atuar socialmente como um catalisador. Quimicamente, o catalisador é uma substância que interfere em determinado processo, alterando a velocidade deste, sem alterar suas características. Agir como um catalisador, portanto, é algo como "ajudar" determinado problema (ou conflito) a chegar à sua solução ou resolução - e não se tornar parte do problema, ou um novo.

E assim, desse jeito simples: sem criar expectativas, sem apegar-se e agindo de forma a não atrapalhar o caminho natural do problema (que acaba sendo a sua solução), nossas preocupações deixam de nos afetar além da conta. Sendo que, lá no começo, eu defini livremente Felicidade como "a ausência de preocupações", será que acabei de oferecer uma "fórmula para a Felicidade"? - Desculpem-me, mas esta NÃO é a minha intenção.



*Apesar de eu não seguir nenhuma doutrina, isto não impede que eu encontre convergência de ideias em questões pontuais como esta.


Leiam mais e, por favor, não se contentem somente com os links indicados abaixo. Façam suas próprias pesquisas e tirem suas próprias conclusões:

https://catracalivre.com.br/geral/saude-bem-estar/indicacao/um-truque-para-acalmar/












http://api.ning.com/files/uHlZmesOlJv641o39LbR*UjWvJlq8b5AH7qmINrdl*8bcSUrTqWxx4paK96-JZQWA9bRaEaUcAHQk*AVDUUm7K6hgu-HfEKl/OFogoLiberadorLevy.pdf

http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/noticias/14-sinais-de-que-voce-tem-inteligencia-emocional

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