Declaração de voto

Em primeiro lugar, não estou fazendo campanha pelo voto nulo, apenas expressando os motivos pelos quais - sistematicamente - tenho anulado meus votos já há alguns anos.
Em segundo lugar, eu sei que uma maioria de votos nulos não faz com que ocorra uma outra eleição - o próprio sistema já se deu conta desta brecha da lei e deu um jeito de “consertar”.
Em terceiro lugar, me abster de escolher um entre os candidatos é bem diferente de me abster da política em si. Também é diferente de colocar todos os candidatos como “farinha do mesmo saco”. Sei que existem diferentes tipos de políticos - inclusive aqueles que não se candidatam. Anular é apenas uma das opções.

Todos vocês sabem que eu vivo, penso, leio, discuto, argumento e compartilho política no meu cotidiano. Sou uma pessoa extremamente política e muito crítica em relação à política em todos os níveis. Portanto, para mim, participar da política está muito longe de, periodicamente, escolher candidatos em uma nominata. Nominata esta que já passou por tantos “filtros” antes que me dá a certeza de que não estou escolhendo o melhor - e sequer o “menos pior” - pois vários outros (partidos, financiadores, mídia, etc.) já fizeram uma pré-seleção deixando para o eleitor apenas aqueles que atendem seus interesses. Sim! Vocês que votam estão escolhendo entre os mais “preparados” para o mercado, os mais “adequados” ao sistema, os mais “prontos” para deixarem tudo exatamente do jeito que está.

Não venham tentar comentar que as urnas eletrônicas são inseguras e, se tivéssemos voto em cédula ou impresso, o resultado seria outro. Fraude existe, sim. Eletronicamente ou à moda antiga. Mas a manipulação do resultado ocorre muito antes do sufrágio. A verdadeira manipulação está na TV, no rádio, no jornal, na rede social, etc. E está por aí o tempo todo, não só em período pré-campanha. Mesmo que um candidato pareça, eventualmente, surgido do nada, é bom vocês saberem que ele só está ali por interessar ao partido, à mídia e - principalmente - aos patrocinadores de sua campanha, que vão cobrar a conta depois. E isso serve tanto para eleições majoritárias (Prefeitos, Governadores, Presidentes e Senadores) quanto para as proporcionais (Vereadores e Deputados).

Alguém vai me dizer que “tem muita gente boa na política” e eu não posso generalizar. E eu vou dizer que eu sei disso e não estou generalizando AS PESSOAS. O que é igual para todos é o sistema. E é tão bem estruturado que mesmo se, porventura, uma ou outra dessas boas pessoas chegar ao cargo para o qual se candidatou ela só permanecerá por lá se não estiver sendo uma ameaça ao sistema.

Este é o momento em que alguém pode querer me dizer: mas então tem que mudar TODOS. Renovar COMPLETAMENTE. E eu peço que me perdoem se a comparação ofender alguém, mas é mais ou menos o mesmo que acreditar que para curar uma pessoa do HIV basta retirar todo o sangue dela (cerca de 8% do peso total) e colocar a mesma quantidade de sangue de outra(s) pessoa(s) saudáveis no lugar. E então eu pergunto: Como será que ninguém nunca pensou nisso antes?! É tão simples!

Aí, finalmente, alguém vai me dizer que “Então precisamos mudar o sistema!”. E eu vou dizer que “Sim! Precisamos mudar o sistema! Mas como tu quer mudar o sistema sem mudar o sistema?”
Porque, afinal de contas, não é agindo de acordo com o sistema (votando em um dos candidatos) que se vai mudar o sistema.
O sistema não é alterado por pessoas de dentro do sistema e que foram escolhidas de acordo com sistema.
Quem, beneficiado pelo sistema, vai agir para que ele mude?
Quem vai abrir mão de seus privilégios?

Nenhum sistema que privilegie uns pode ser igualitário. Talvez na próxima mudança (se houver) a humanidade acerte.

Por isso tudo (e alguns outros pequenos detalhes) eu declaro que anularei meu voto “de cabo a rabo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário