Expectativas e Esperanças (ou O Encantador de Desejos)

Existe algo que eu aprendi há muito tempo, e que tem facilitado minha vida desde então: NÃO CRIAR EXPECTATIVAS. E tento aplicar em toda e qualquer situação onde existe algo que eu não possa controlar, pois eu sou controlador por natureza. Não gosto de não ter controle sobre a situação. Isto é no trabalho, nos relacionamentos, e - pasmem - até com a natureza. Sim! Eu gostaria de poder controlar a chuva, o vento, o Sol, o calor, etc. Mas não posso! Ninguém pode!

E, mesmo não podendo, o que é normal - intrínseco - a todo ser humano? Criar expectativa. O tempo todo se cria expectativa. De que os 15 dias que escolheu (4 meses antes) para as férias na praia sejam de sol e calor. Que a loja tenha o seu número daquele sapato que viu na vitrine. Que o chefe veja o trabalho bem feito e dê uma sexta-feira de folga. Que ela chegue em casa cheia de amor pra dar. Que ele mande flores. Que o time jogue bem e se classifique para a final. Posso listar infinitas situações, mas as coisas praticamente nunca são exatamente como queremos. E quando a expectativa não é atendida vem a FRUSTRAÇÃO. E poucas coisas são piores que uma expectativa frustrada. 

Isso não quer dizer que eu não tenha ESPERANÇA. Existe uma pequena, mas fundamental, diferença entre ambas as coisas: a CERTEZA - que existe na expectativa mas não na esperança. Em qualquer dicionário ou língua as palavras são sinônimos, mas as definições são diferentes. Não vou nem entrar na questão religiosa do tema, pois o catolicismo coloca a esperança diretamente ligada à figura de Deus (vejam sobre Virtudes Teologais). Em outras palavras: quando se cria esperança (e não expectativa) se tem em mente o que se deseja, mas com a incerteza do resultado.

Simples, não? Mas, como eu já escrevi em um texto anterior, é muito mais difícil ser simples. Ainda sem tratar diretamente de religião, existe em comum a diversas doutrinas (principalmente em grupos de ajuda) a Oração da Serenidade que, com algumas variações locais, diz assim:
"Dai-me a Serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, a Coragem para modificar aquelas que posso, e a Sabedoria necessária para distinguir umas das outras"
Obviamente, para mim, esta Serenidade, esta Coragem e esta Sabedoria não são concedidas, dadas ou provenientes de um Deus ou algo semelhante. É algo que temos, podemos aprender, ou desenvolver. Tudo começa com o Autoconhecimento. Nosso inconsciente e nosso subconsciente podem ser nossos piores inimigos. E precisamos conhecer nossos inimigos para derrotá-los ou, neste caso, torná-los nossos aliados. Me conhecendo, sabendo dos meus pontos fortes e, principalmente, das minhas fraquezas, eu posso chegar à tal Sabedoria para perceber a diferença entre o que posso e o que não posso controlar (e modificar).

Não foi fácil. Precisei errar bastante e levei algum tempo, mas aprendi a controlar apenas o que posso: minha vontade, minhas expectativas. A decepção é do mesmo tamanho que a expectativa. Parece simples mas não é. Cabe aqui uma metáfora quase em formato de historinha:
"Eu tenho um cão, que tenta atacar outros cães sempre que o levo para passear (agora me lembrei dos programas do Encantador de Cães). Eu não posso deixá-lo preso em casa, bem como não posso controlar os outros cães. Me resta, então, treinar e educar meu próprio cão. Encurtar a guia, mostrando a ele quem está no comando. Sou eu quem o leva para passear e não o contrário. E ao mesmo tempo eu mostro ao meu cão os benefícios de não atacar outros cães e as recompensas que ele pode receber. No final do treinamento, a presença de outros cães surpreendentemente não o incomoda mais, e podemos passear tranquilos todos os dias em qualquer lugar."
Digamos, então, que basta mudar o foco: Em vez do objeto do meu desejo (o encontro tranquilo com os outros cães), que não está ao meu alcance, eu controlo o desejo (o comportamento do meu cão). E controlar não é anular. Eu não mato o meu desejo, apenas tomo o controle sobre ele fazendo com que ele trabalhe a meu favor, e não contra mim.

E acaba que, em vez de me frustrar, eu posso até me SURPREENDER. Positivamente.

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