Complexidade e Dúvida - Toda explicação pode - e deve - ser questionada.

Em Filosofia se sabe que a evolução científica só é possível graças à dúvida que se coloca em relação à veracidade de uma prova. Eu já vinha preparando este texto há algum tempo, mas antes preferi ler a íntegra de Ciência com Consciência, do Edgar Morin (só tinha lido resenhas e resumos). Junto de outros, como O Método, este é um dos textos base para o PENSAMENTO COMPLEXO que, ao menos no meu ponto de vista, é a maneira mais adequada de tentar entender a realidade. Sim: tentar, pois o Conhecimento (ou a Ciência, se preferirem) é baseado em certezas que estão constantemente sendo revistas, corrigidas, refutadas, contestadas, negadas e até retomadas. E é assim que se dá o progresso.

Sempre que uma hipótese (descoberta ou revista) é tida como verdadeira, as demais são consideradas falsas mas continuam sendo possíveis. E a qualquer momento podem surgir novas evidências que gerem novas hipóteses ou, então, que façam uma hipótese antes falsa tornar-se verdadeira. É isto que diferencia Teorias de Doutrinas ou Dogmas - estes, sim, rígidos, imutáveis, inexoráveis e permanentes. Para Karl Popper, por exemplo, as hipóteses devem ser provadas através da tentativa de negá-las - é o princípio da falseabilidade. E isto é feito de maneira cíclica e constante.


E nossa existência não é diferente da Ciência. Guiamos nossas vidas através de "Tentativa e Erro". Temos nossas verdades, convicções, ideais, desejos, objetivos e até (por que não?) amores. E tudo está em constante processo de mutação. Nos adaptamos, mudamos e evoluímos. A todo momento estamos (ou pelo menos deveríamos estar) repensando nossa maneira de ver o mundo. Ao contrário da máxima que diz que "ninguém muda", somos como uma teoria em constante processo de revisão. Não somos dogmas nem doutrinas. Questionamos e somos questionados. Tomamos decisões e somos afetados pelas decisões alheias. 

E é justamente neste ponto que chegamos ao que é chamado de Complexidade. Aqui nos colocamos além da afirmação de Pascal de que se deve conhecer "o todo pelas partes e as partes pelo todo" para poder compreendê-los e muito além do Reducionismo e do Holismo (o primeiro reduz a importância do todo e o segundo, das partes). Ao todo e às partes se aplica a interação do ambiente. Depois disso, para a elaboração do pensamento existe a interpretação. E para a compreensão do pensamento existe outra interpretação. Enquanto o Pensamento Sistêmico, sendo linear, tira o objeto de estudo de seu contexto e estabelece uma continuidade hierárquica, o Pensamento Complexo é como um hipertexto ilimitado, algo semelhante a uma teia, com todas as ligações e interações possíveis entre os elementos. Sem esquecer o fato de que em qualquer momento pode (e vai) existir o Ruído, o Erro, a Adaptação e o Caos.

O Ruído, o Erro e a Adaptação são os elementos responsáveis pela mudança. O Caos é um elemento de coesão e não de destruição. Em vez da Ordem, que pressupõe uma espécie de hierarquia entre as partes, o que existe é a Organização, onde nem tudo tem um local e um papel pré-definido e definitivo. Não é a negação do determinismo, mas sim a afirmação da existência do que NÃO É determinado. Há uma instabilidade na relação entre as partes que mantém a unidade do todo. Sendo que cada parte também é um todo. É uma estrutura caoticamente organizada.

Sabem aquela história de "se achar na própria bagunça"? É mais ou menos isso. Existe uma espinha dorsal, sistematizada. Ou melhor: existem inúmeras espinhas dorsais sistematizadas que se encontram (ou não) em inúmeros pontos. E, além disso, existem inúmeros elementos isolados (que não fazem parte de nenhum sistema) e que também "tocam" estas inúmeras espinhas dorsais em inúmeros pontos. Cada um destes pontos de encontro é responsável por uma (mesmo que quase imperceptível) mudança no curso lógico/normal do sistema, ao menos para parte dos elementos deste sistema - alterando todo o sistema ou criando um novo.




Obviamente uma explicação como esta é difícil de aceitar porque não define. Não dá uma resposta irrefutável. E seres humanos comuns se satisfazem com respostas comuns, simples e definitivas - mesmo que não façam sentido. É como quando um de meus filhos me faz uma pergunta à qual eu respondo: "depende". E é isso mesmo: Tudo depende. É simplesmente complexo e contextualizado. E é em tudo: nos átomos, nas moléculas, nos organismos vivos (desde os mais simples), nos objetos inanimados, nos ambientes, nas sociedades, nas civilizações, nos astros, no Universo/Cosmos, etc. O pensamento sistêmico é válido, mas devemos ir além.



Leiam mais e, por favor, não se contentem somente com os links indicados abaixo. Façam suas próprias pesquisas e tirem suas próprias conclusões:

http://www.filosofia.com.br/vi_res.php?id=21

http://transdisciplinaridade.wordpress.com/2012/01/20/pensamento-complexo/

http://www.hipertextus.net/volume7/01-Hipertextus-Vol7-Antonio-Carlos-Xavier.pdf

http://www.edgarmorin.org.br/textos.php?tx=19

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